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Figura 1: Classificação das LI. Fonte:www.meted.ucar.edu |
As linhas de instabilidade são classificadas em 4 categorias:
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FFigura 2: Classificação das LI. Fonte:www.meted.ucar.edu |
Gamache e Houze (1982)
A primeira descrição de linhas de instabilidade tropicais como fenômenos atmosféricos distintos ocorreu em 1945, enquanto que a primeira documentação desses sistemas durante um experimento de campo aconteceu em 1969.
Uma linha de instabilidade tropical é a porção dianteira de um distúrbio propagante em mesoescala, aqui referido como squall system; ela consiste basicamente de Cbs e apresenta na sua retaguarda uma nuvem do tipo bigorna (anvil cloud) que em geral possui bastante precipitação.
Os elementos convectivos são do tipo torres quentes e consistem em fluxos ascendentes por empuxo de ar úmido da camada limite para a alta troposfera; movimentos descendentes carregam ar mais seco dos níveis médios para a camada limite, sendo que parte deste fluxo se espalha para a dianteira do sistema formando a frente de rajada (gust front) e o restante se esparrama na retaguarda do sistema.
A bigorna, em contraste com a linha convectiva, tem uma estrutura predominantemente estratiforme, com precipitação e nebulosidade praticamente uniformes; as partículas precipitantes nas porções mais elevadas desta região são basicamente cristais de gelo que podem degelar e eventualmente evaporar na passagem pelo ar seco da retaguarda.
Os movimentos verticais na retaguarda são para baixo abaixo da base da bigorna e para cima na bigorna propriamente dita (os movimentos para cima não são tão convincentes como os para baixo, porém existem fortes evidências sobre sua existência).
Os movimentos verticais em uma LI são esquematizados da seguinte forma:
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Figura 3 |
É bastante difícil obter as distribuições verticais em um sistema como este devido à falta de observações, mesmo em experimentos de campo.
Neste trabalho serão apresentados resultados referentes à composição de informações de radar com campos de vento de modo a determinar os perfis verticais de um sistema observado em 12SET74 na área do Global Atmospheric Research Programme Atlantic Tropical Experiment (GATE).
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Figura 4 |
Para as representações gráficas, foi utilizado um sistema de coordenadas que se move junto com a linha de instabilidade, que de acordo com a Fig.2, se move para SW a 13,5 m/s; assim o sistema (a,b) é usado para descrever o sistema.
O período estudado foi de 0900 a 1800, quando o sistema permaneceu “parado” em relação ao sistema (a,b); com relação ao seu desenvolvimento, pode-se dizer que as descrições aqui fornecidas se referem ao estágio maduro e início de dissipação.
Composição das imagens de radar do período 1300-1800:
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Figura 5 |
Na superfície:
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Figura 6 |
Em 850hPa:
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Figura 7 |
Em 650hPa:
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Figura 8 |
Em 450hPa:
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Figura 9 |
Em 300hPa:
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Figura 10 |
Em 200hPa:
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Figura 11 |
As secções verticais do movimento vertical foram obtidas para os valores: = -25 km,
= 25 km e
= 75 km.
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Figura 12 |
Garstang et al (1994)
Estudam a estrutura e a cinemática de linhas de instabilidade de mesoescala a escala sinótica na Bacia Amazônica; este é um dos principais causadores de chuvas na região.
Estes sistemas formam-se ao longo da costa N-NE da A.S. como resultado de convecção induzida pela brisa marítima e são chamados linhas de instabilidade costeiras na Amazônia (ACSL); eventualmente esses sistemas propagam-se continente adentro, alcançando Manaus e até a encosta dos Andes, cerca de 48 horas após sua formação.
Durante o ABLE 2B, no período de 1 de Abril a 15 de Maio de 1987, foram detectadas 12 casos de ACSL:
Ciclo de vida
Componentes das nuvens e da precipitação: 3 regiões distinguíveis:
Para enfatizar a cinemática e a dinâmica de uma ACSL, será utilizado o caso de 1 de Maio de 1987:
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Figura 13 |
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Figura 14 |
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Figura 15 |
Estes sistemas afetam a distribuição vertical de temperatura potencial equivalente, reduzindo efetivamente o mínimo de qe nos níveis médios; isto se dá pelo transporte para cima de ar com alto qe , pela liberação de calor latente e pelo transporte para baixo de ar frio e seco dos níveis médios; assim, as ACSL tendem a estabilizar o ambiente.
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Figura 16 |
Cohen et al (1995)
Documentam as condições do ambiente para a formação de linhas de instabilidade.
De acordo com trabalhos anteriores, o período de 21 de Abril a 3 de Maio (durante o ABLE-2B) foi dominado pelos sistemas de ocorrência costeira com propagação para o interior do continente, sendo responsáveis por 90% da precipitação observada no período.
Silva Dias & Ferreira (1992), através de modelagem numérica, concluem que é necessário um espesso jato de leste nos baixos níveis (conforme observado em dias com LI) para promover velocidades de grupo comparáveis às observadas.
Este trabalho se divide em duas partes: a primeira parte busca examinar os perfis do vento em diferentes evoluções convectivas originadas na costa norte do Brasil e a segunda apresenta um estudo de caso dos dias 5 a 7 de Maio de 1987.
Os sistemas são classificados de acordo com sua propagação continente adentro:
Obs: o valor 170 km foi escolhido por ser a largura média das LI nas imagens de satélite.
Foram usadas imagens horárias do GOES-E e rede de sondagens do ABLE-2B; para o estudo de caso, além desses, análises operacionais do ECMWF foram usadas.
Cohen et al (1989):
O deslocamento máximo de uma SL2 na Amazônia foi de 2000 km, enquanto que na África Oeste é de 2100 km e na Venezuela é de 150 km; em termos de dimensões, na África 750 km de comprimento e 433 em largura; na Venezuela, 98 km de comprimento e 29 km de largura.
Perfis do vento zonal para casos distintos de LI:
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Figura 17 |
Observe que o jato de leste nos baixos níveis é mais intenso e mais espesso nos dias com formação de linha de instabilidade propagante do que nos dias com linha de instabilidade costeira ou sem formação de linha.
O caso de 5 a 7 de Maio de 1987:
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Figura 18 |
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Figura 19 |
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Figura 20 |
Obs1: conforme o perfil do vento durante a passagem da LI sobre Belém, a camada inferior é levantada e logo após é novamente abaixada.
Obs2: pelo perfil de qe , observa-se um aumento da temperatura potencial equivalente durante e após a passagem de uma LI em Belém, provavelmente devido à chegada de ar marítimo pela brisa; para regiões mais interiores no continente (Alta Floresta, por exemplo), os efeitos do downdraft (diminuir o qe nos níveis baixos) são mais marcantes e estão de acordo com a literatura.
Estas linhas de instabilidade da Amazônia devem ser vistas como sistemas complexos nos quais há interação entre a larga-escala, a mesoescala e a escala de nuvem:
Uma conclusão a ser mencionada é que a propagação das linhas da Amazônia (assim como em outros lugares) está ligada à existência de cisalhamento (principalmente direcional) entre o JBN e o JAN; este cisalhamento forma uma espécie de “duto” no qual a LI pode se propagar como uma onda de gravidade por grandes distâncias (os casos SL2 citados anteriormente).
Silva Dias (1987)
Aspectos dinâmicos na evolução de linhas de instabilidade:
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Figura 21 |
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Figura 22 |
Formação de LI:
Estudo de caso de Calvetti L. (2000)
Situação Sinótica:
Pela imagem no infravermelho do satélite à 18 UTC (Fig.1) observa-se a presença de vários células convectivos principalmente na Região Norte, Mato Grosso, Maranhão e região sudeste, além de uma frente fria no Oceano Atlântico próximo a costa do Paraná e São Paulo. Na imagem das 00 UTC (6 horas depois), grande parte dos sistemas convectivos começam a se dissipar aparecendo uma ampla cobertura de nebulosidade cirruliforme.
Observa-se a presença das ondas de leste nos campos de 700 e 850 hPa (Fig. 2) que podem contribuir, junto com a circulação da brisa marítima para a formação das linhas de instabilidades.
É interessante notar que o escoamento próximo à LI em estudo está de leste desde os níveis baixos até 300 hPa, este último devido ao posicionamento mais ao sul da Alta da Bolívia. No campo de 850 hPa observa-se sucintamente o jato de baixos níveis que pode ser melhor visualizado com dados de radar.
O suporte diferencial de umidade é dado pelo escoamento de leste vindo do Oceano Atlântico associado com a brisa marítima penetrando no continente.
Às 18 UTC do dia 26 verifica-se o aumento de umidade no leste norte da América do Sul, e no campo de divergência de umidade em 1000 hPa às 00 UTC do dia 27 observa-se núcleos de convergência de umidade colineares separados com aspecto da presença de algum tipo de onda de leste.
No campo de temperatura potencial em 1000 hPa às 18 UTC e às 00 UTC dos dias 26 e 27 (não mostrado), respectivamente, há um núcleo quente à nordeste de Rondônia, região de formação da LI. Pode-se associar esse núcleo como uma possível fonte de calor em superfície contribuindo para convecção. Os dados de radiação de onda longa em superfície observado em Ouro Preto d’Oeste mostram também que há boa disponibilidade de calor sensível no final do dia, mas não necessariamente seja um diferencial para disparar a formação da LI.
Também no campo de temperatura potencial, mas em 500 hPa, observa-se uma confluência das isotermas sobre Rondônia na mesma direção da LI formando um gradiente de temperatura de 2.5 K.
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Figura 23: Imagens do satélite GOES-8 no Infra-Vermelho para às 18 UTC de 26 e 00 UTC de 27 de janeiro de 1999. |
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Figura 24: Campos de vento para às 00 UTC do dia 27 de janeiro de 1999 nos níveis de 850, 500 e 300 hPa. Os ventos na região de Rondônia são de leste desde os baixos níveis até 300 hPa. O Jato em altos níveis está em cerca de 33S. |
Concluindo, as condições de grande escala mostram um aquecimento em baixos níveis como uma possível fonte de calor, a presença de jatos de baixos níveis associados ao escoamento de leste e a convergência de umidade próximo à superfície para a formação e desenvolvimento da LI. Em todos os níveis desde 1000 até 200 hPa o escoamento foi de leste sendo neste último devido ao posicionamento da Alta da Bolívia mais ao sul. Sua formação ocorreu por volta das 18:00 UTC do dia 26 e dissipou-se em torno das 00 UTC de 27 de janeiro de 1999. Sua extensão média foi de aproximadamente 200 km e a velocidade média de propagação ficou em torno de 11.1 m/s.
COHEN, J. C. P., M. A. F. SILVA DIAS e C. NOBRE, 1995: Enviromental conditions associated with amazonian squall lines: A case study. Mon. Wea. Rev., 123, 3163-3174.
GAMACHE, J. F. e R. A. HOUZE, Jr: 1982: Mesoscale air motions associated with a tropical squall line. Mon. Wea. Rev., 110, 118-135.
GARSTANG, M., H. L. MASSIE, Jr, J. HALVERSON, S. GRECO e J. SCALA, 1994: Amazon coastal squall lines. Part I: Structure and kinematics. Mon. Wea. Rev., 122, 608-622.
(acessado em 15/08/10)