São circulações termicamente forçadas que surgem ao longo de quase todo limite de costa existente no mundo.
Considerações de Atkinson (1981):
O aquecimento diferenciado entre continente e oceano, com gradientes de temperatura de aproximadamente 1°C por 20 km, promove fluxos de energia diferentes para a atmosfera, causando gradientes de pressão em determinados níveis acima da superfície, os quais impulsionam o movimento.
Este movimento gera divergência e convergência em diferentes pontos, o que faz com que se estabeleça uma célula de circulação.
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Figura 1: Distribuição vertical da pressão com as altas e baixas térmicas. |
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Figura 2: Circulação térmica produzida pelo aquecimento e resfriamento da atmosfera próximo ao chão. As letras H e L referem-se à pressão atmosférica (altas e baixas, respectivamente). As linhas representam superfícies de pressão constante (isóbaras). |
O estabelecimento da brisa marítima é caracterizado por aumento na intensidade do vento, mudança na direção, queda de temperatura e aumento de umidade.
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Figura 3: Diagrama de parâmetros meteorológicos. Fonte: Atkinson (1981). |
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Figura 4: Brisa marítima. |
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Figura 5: Brisa terrestre. |
As espessuras características das células de brisa são maiores nos trópicos do que nas médias latitudes; há discrepância entre os valores, os quais variam de 100 m a 2 km para a brisa marítima e algumas centenas de metros para a brisa terrestre.
As correntes de retorno em geral possuem o dobro da espessura da brisa em si e, por continuidade, possuem aproximadamente metade da intensidade da brisa.
No HN, a brisa gira no sentido horário e no HS, no anti-horário, giro este devido à força de Coríolis.
A célula de brisa é, portanto um dos poucos movimentos de mesoescala afetados pela rotação da Terra.
A presença de um vento gradiente pode afetar substancialmente a formação da célula de brisa ou mesmo dificultar sua penetração no continente.
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Figura 6 |
Existem estudos sobre a "frente de brisa marítima" caracterizada pelos contrastes de temperatura e umidade e eventualmente por gradientes de vento.
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Figura 7 |
Em latitudes médias, pode-se detectar a frente de brisa cerca de 20 a 50 km continente adentro, enquanto que nos trópicos, distâncias de até 300 ou 400 km de intrusão são observadas na Austrália (tab. abaixo).
A estabilidade vertical é um parâmetro meio decisivo na brisa marítima:
A topografia e a cobertura vegetal podem influencixar a brisa marítima:
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Figura 8 |
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Figura 9 |
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Figura 10 |
Quando a linha da costa é irregular, pode haver regiões onde a convergência nos baixos níveis seja enaltecida, o que pode explicar a alta ocorrência de precipitação em determinadas regiões durante o verão.
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Figura 11 |
A evolução da brisa marítima é mais complicada quando existe um vento de fraco a moderado (+ ou - 6 m/s) prevalecendo na situação sinótica.
Nos trópicos e latitudes médias, um gradiente horizontal de menos de 10 W/m2 em 30 km tem apenas uma influência mínima nos ventos locais; com um gradiente de 100 W/m2 em 30 km, efeitos significantes são estatisticamente discerníveis; já para 1000 W/m2 em 30 km, a influência nos ventos locais é muito pronunciada em vários estudos de caso.
Lyons (1972) desenvolveu índices para estimar quando a brisa vai ocorrer ou não: quando for maior do que 10 (onde vg é o vento geostrófico de superfície às 06 HL e DT a máxima diferença de temperatura entre o ar sobre o continente e a água do mar), a brisa marítima não se forma; isto porque o gradiente de temperatura formado (e portanto de pressão) não é suficiente para superar a energia cinética do movimento em larga escala.
Anthes (1978) com um modelo 2D, sem a presença de vento sinótico, mostra que a corrente de retorno da brisa marítima ocorre totalmente acima da camada limite, enquanto que a corrente de retorno da brisa terrestre é confinada abaixo deste nível.
Abe e Yoshida (1982) examinaram a influência da largura de uma península na intensificação da brisa marítima e concluíram que com uma largura de 30 a 50 km, os movimentos verticais ascendentes foram os maiores gerados.
Outros estudos chegam à conclusão de que ao longo de linhas de costa, durante o verão nos trópicos e subtrópicos, sem a presença de um campo sinótico, a brisa marítima exerce uma influência dominante nos locais de formação e na propagação de complexos tormentosos.
Um estudo numérico usando o RAMS - 3b, foi feito por Pinto de Almeida (2000) sobre a circulação de brisa na região de Cabo Frio - RJ. A região caracteriza-se por escoamento de NE da Alta Subtropical durante o ano todo e seu litoral pelo fenômeno da ressurgência costeira.
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Figura 12 |
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Figura 13 |
Notou-se que a brisa marinha é muito marcante na região e que uma estreita região de ressurgência próxima a costa marca uma intensificação de uma subcélula de circulação, inibindo o escoamento de NE e influenciando o próprio escoamento de meso-escala da brisa. Notou-se também que quando simulando a ressurgência, a corrente de retorno levanta, estando associado a maior intensidade da brisa.
De maneira análoga à brisa marítima e terrestre, o aquecimento diferenciado é responsável pelos gradientes de pressão que forçam os movimentos.
Para o caso de brisa vale-montanha pode-se dizer que o sistema é mais eficiente, pois requer uma quantidade menor de calor para gerar uma circulação de tamanho comparável, porém com intensidades maiores (vide tabela).
O estabelecimento da brisa vale-montanha é caracterizado por mudanças nos campos de temperatura, umidade e vento. A brisa do vale ("upslope") é o análogo da brisa marítima e a de montanha ("downslope"), da brisa terrestre.
Nos sistemas de brisa vale-montanha, o downslope ou catabático é o mais observado em contraste com o upslope ou anabático, menos detectado. Neste sentido, caracteriza-se de maneira oposta à brisa terra-oceano.
Este tipo de circulação não necessariamente ocorre com maior freqüência nos trópicos em relação às latitudes maiores; o vento catabático é frequente em altas latitudes principalmente nos meses de inverno.
Pelo fato de que durante o dia a superfície quente promove movimentos mais convectivos e durante a noite, o resfriamento da superfície promove fluxos mais laminares, o upslope é muito mais "espesso" do que o downslope; assim é de se esperar que o downslope seja mais intenso, e de maneira geral isso acontece (porém as intensidades típicas não diferem muito).
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Figura 14 |
Numa região com terreno irregular, os padrões locais de vento podem se desenvolver devido ao aquecimento diferenciado entre a superfície próxima ao solo e a atmosfera livre a uma certa distância, na mesma altura.
Uma grande variação diurna na temperatura usualmente ocorre no solo, sendo que durante o dia a montanha torna-se uma fonte elevada de calor, enquanto que à noite, ela é um sumidouro elevado de calor.
Ventos de encosta referem-se a ar mais frio e mais denso fluindo terreno abaixo durante a noite, e com ar mais quente e menos denso movendo-se na direção das maiores elevações durante o dia, respectivamente chamados de ventos catabáticos e anabáticos.
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Figura 15 |
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Figura 16 |
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Figura 17 |
Ventos de encosta geralmente ocorrem quando gradientes topográficos ao longo da montanha são mais abruptos do que aqueles encontrados ao longo do vale, e sendo assim, ventos de encosta tendem a se desenvolver mais rápido do que ventos de vale.
Durante os dias de verão, ventos de encosta tendem a ser mais espessos durante o dia do que durante a noite (assim como a brisa marítima), devido ao aquecimento da superfície pela radiação solar, o qual gera uma mistura vertical mais efetiva pelos fluxos turbulentos; à noite, o resfriamento radiativo predomina se os ventos são fracos e o fluxo resultante é mais raso.
A evolução diurna da camada limite planetária em terrenos montanhosos é mais complicada do que a observada sobre um terreno plano.
Interações entre sistemas de brisa vale-montanha e terra-oceano também já foram estudados; estas interações podem ser muito complexas, não sendo apenas a superposição dos dois fenômenos.
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Figura 18 |
Atkinson, B.W., 1981: Meso-scale atmospheric circulations, London Academic Press, 495 p., Chap. 5 & 6.
PIELKE, R.A., 1984: Mesoscale Meteorological Modelling, Orlando Academic Press, 612 p., Chap. 13.
(acessado em 15/08/10)