As regiões tropicais e subtropicais da América do Sul, África Central e Indonésia são os principais locais de intensa atividade convectiva diurna.
Numerosos estudos observacionais notaram a relação entre a variação sazonal da convecção na América do Sul e a intensidade da Alta da Bolívia (Lenters e Cook, 1996).
Existe uma grande variabilidade da posição e intensidade da Alta da Bolívia ao longo de todo o verão.
A Alta da Bolívia é um anticiclone que ocorre na alta troposfera no verão sobre a América do Sul. O padrão de circulação do verão na alta troposfera mostra a formação de um anticiclone sobre a parte central na América do Sul e um cavado no nordeste brasileiro (Gusmão de Carvalho, A.M.,1989).
Nos altos níveis, um anticiclone intenso e quase-estacionário se estende sobre quase toda a América do Sul nos meses de verão, gerando um fluxo para leste em torno de 10S e um forte fluxo cruzando o equador para norte-nordeste entre 55°W e 80°W.
As modificações sazonais no regime da circulação da alta troposfera na América do Sul são bastante marcantes.
Entre o inverno e o verão a circulação da alta troposfera na América do Sul modifica-se de um padrão de circulação predominantemente zonal para meridional.
O anticiclone se estabelece com centro no Altiplano Boliviano apenas durante o verão, para depois se deslocar para dentro do continente. Durante o outono, o anticiclone na alta troposfera se desloca em direção ao Oceano Atlântico, desaparecendo completamente no inverno e ressurgindo na primavera com centro na Amazônia.
O conceito de radiação de onda longa emergente (Outgoing Longwave Radiation - OLR) tem sido usado como indicador de variabilidade da convecção profunda na região tropical.
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![]() | Figura 1: Posição climatológica: outubro a abril. Fonte: Climanálise. |
Estudos observacionais sugerem que o desenvolvimento da Alta da Bolívia, no verão, esteja associado ao forte aquecimento da superfície da terra sobre o Altiplano Boliviano durante esta época do ano, aquecendo a coluna troposférica e, consequentemente, produzindo aumento da espessura sobre o continente, gerando assim, um anticiclone em altos níveis (Gutman e Schwerdtfeger, 1965).
Gutman e Schwerdtfeger (1965), utilizando a análise do perfil vertical da estação meteorológica de Antofagasta (23°S-70°W), mostraram que no verão do Hemisfério Sul a camada troposférica entre 200 e 500hPa aumentava de espessura, sugerindo que a fonte de aquecimento para gerar este aumento na espessura estava vinculada à liberação de calor associada a dois processos: calor latente devido à convecção e também calor sensível liberado pelo Altiplano Boliviano.
Gandu e Geisler (1991) fizeram experimentos no cinturão tropical utilizando três fontes de calor para representar o efeito da convecção na Amazônia, Indonésia e África. Todos os experimentos reproduzem a Alta, mas o cavado corrente abaixo da Alta não fica bem definido em termos de posicionamento quando o modelo é forçado apenas com a fonte na Amazônia. Esses resultados sugerem que a distribuição da convecção ao longo do cinturão tropical pode ser importante na determinação da posição de ambos, Alta da Bolívia e Cavado.
A seguir, serão descritos alguns trabalhos:
Em geral, o balanço de vorticidade obtido a partir de dados sinóticos avalia somente os termos de larga-escala.
Se não houver balanço, é necessário interpretar o resíduo de vorticidade em termos dos processos físicos em escala de subgrade, como por exemplo, a convecção (a qual não pode ser extraída de dados em larga escala), que pode ter suma importância no transporte de vorticidade em escala de subgrade.
Estudos anteriores mostram que os cúmulos modificam a vorticidade em larga escala através de:
As regiões tropicais e subtropicais como América do Sul, África Central e Indonésia são os principais locais de intensa atividade convectiva diurna.
Ao redor do Himalaia, por exemplo, foi encontrado que a produção de vorticidade pelo campo de vento divergente na Alta do Tibet é balanceada não só pela adveção vertical de vorticidade e pelos outros termos da equação, mas também por um mecanismo de subgrade que remove vorticidade anticiclônica da região numa taxa de 4x10-10 s-2.
A precipitação intensa e persistente sobre a região tropical da AS e a correspondente liberação de calor latente (que é cerca de duas vezes maior do que o fluxo ascendente de calor sensível) é o mecanismo que mantém anticiclones de altos níveis de “núcleo quente” em larga escala durante o verão.
Portanto, existe interesse em determinar a magnitude da contribuição deste termo para o balanço de vorticidade na AS. Como dados convencionais de altitude são esparsos na AS dados de vento derivados de movimentos de nuvens foram usados no estudo.
A idéia é avaliar todos os demais termos de grande escala (advecção horizontal e vertical de vorticidade relativa, advecção de vorticidade planetária, o termo divergente e o termo de inclinação) e atribuir o resíduo do balanço ao efeito integrado das “torres quentes” de subgrade.
A advecção vertical de vorticidade ciclônica da camada limite em direção aos altos níveis pelas células convectivas do tipo “torres quentes” é provavelmente a maior contribuição para o resíduo que mantém o balanço.
A região de estudo: 15°N a 35°S e 030° e 090°W, com dois conjuntos de dados:
Nos altos níveis, um anticiclone intenso e quase estacionário se estendendo sobre quase toda a AS, um fluxo para leste em torno de 10°S e um forte fluxo cruzando o equador para norte-nordeste entre 55° e 80°W.
Nos níveis baixos, o jato norte-noroeste flui ao longo das encostas leste dos Andes e existe um fluxo de nordeste em quase toda a porção leste e norte da região continental.
As diferenças foram avaliadas em uma grade de 5° x 5° (lembrando que o NESS só tem altos níveis e o McIDAS tem altos e baixos) e para todos os pontos de cálculo os valores da derivada local eram duas ordens de grandeza menores do que os demais e portanto foram desprezados.
Obs: é feita a ressalva de que existem alguns problemas com as estimativas dos termos de advecção vertical de vorticidade e de inclinação; isto se deve ao fato de que dados de vento extraídos de nuvens possuem pobre resolução vertical, limitando as estimativas citadas.
A seguir serão apresentadas as figuras das estimativas de cada termo; lembrar que os aspectos essenciais da interpretação destas figuras não estão no valor numérico exato e sim nas localizações e ordens de grandeza dos termos devidos aos efeitos de grande escala e as conseqüentes configurações do resíduo.
Os resultados do NESS encontram-se na figura 3 A-D abaixo:
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Figura 2 |
Os resultados do McIDAS encontram-se na figura 4 A-D abaixo:
Padrões similares aos do NESS, o que não necessariamente deveria acontecer uma vez que o NESS é a média de 6 meses em 3 verões consecutivos e o McIDAS se refere a um período específico de 6 dias (as diferenças entre ambos se deve ao fato de que, no período específico do McIDAS, a Alta da Bolívia e o cavado em altos níveis estavam deslocados para leste, e além disso o cavado estava menos intenso).
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Figura 3 |
O conceito de radiação de onda longa emergente (Outgoing Longwave Radiation - OLR) tendo sido usado como indicador de variabilidade da convecção profunda na região tropical.
Sendo regularmente arquivado desde 1974 (com buraco em 1978) através dos satélites meteorológicos de órbita polar (passam 2 vezes pelo mesmo ponto em 24h), este parâmetro é geralmente usado como a média das 2 passagens diárias para reduzir os efeitos dos horários das passagens pelo equador e também as diferenças entre satélites.
Este trabalho apresenta uma climatologia de pêntadas (médias de 5 dias) da OLR durante o período de janeiro de 1979 a dezembro de 1987, considerando dados com resolução de 2.5° de latitude e longitude para o setor América do Sul. Determina também, o início e o final da estação chuvosa, segundo os seguintes critérios:
Figura 1a:
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Figura 4 |
Figura 1d:
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Figura 5 |
Figura 1e:
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Figura 6 |
Figura 1h:
Obs1: é possível notar também o ciclo anual da ZCIT, permanecendo ao norte do equador de maio a janeiro, um pouco ao sul do equador e próxima ao nordeste do Brasil de fevereiro a abril e afastando-se em direção ao HN no período julho-dezembro.
Obs2: dentro dos critérios adotados, no Pacífico Leste e em grande parte do Atlântico Sul, não existe estação chuvosa; por outro lado, na Colombia, no noroeste do Brasil e no sul da Venezuela não se estabelece estação seca.
Sobre o oeste do Brasil, a estação chuvosa começa em agosto, enquanto que na região que vai desde o Mato Grosso rumo sudeste até São Paulo, ela começa em setembro; áreas mais ao norte e a leste, começam a estação chuvosa mais tarde.
A porção norte do nordeste do Brasil é a última a entrar na estação chuvosa, a qual começa em janeiro nesta área; por outro lado, as áreas costeiras do nordeste do Brasil (RN até sul da BA) não apresentam estação chuvosa.
Obs3: nestes locais, a estação chuvosa ocorre durante o inverno e outono do HS, provavelmente devida a circulações diurnas locais de pequena escala, as quais não podem ser resolvidas pelo presente conjunto de dados.
O final da estação chuvosa acontece primeiro no Brasil sudeste (meio de março ao meio de abril) e progressivamente mais tarde à medida que se vai para noroeste (final de maio na bacia amazônica).
Obs4: há um progressivo aumento na duração da estação chuvosa à medida que se vai da região sudeste para a parte oeste da bacia amazônica, enquanto que as estações chuvosas mais curtas se encontram sobre o Nordeste, onde a estação chuvosa dura de 2 a 4 meses (exceto para áreas costeiras).
Obs5: o valor limite de 240 W/m2 talvez não seja o mais adequado para a América do Sul, ou seja, estudos climatológicos complementares na região são necessários para a determinação de um valor ótimo.
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Figura 7 |
Descrevem o ciclo anual de convecção que se situa sobre a Bacia Amazônica durante o verão austral e sobre a América Central no verão do HN.
Utilizam dados de OLR e análises operacionais do ECMWF; fazem o estudo via médias representativas de pêntadas para ambos, sendo que para a circulação enfoque maior é dado nos altos níveis (200 hPa).
Comparam a variabilidade espacial e temporal da atividade convectiva sobre as Américas com os demais locais do cinturão tropical.
Dados:
Os padrões climatológicos de OLR e circulação em 200 hPa para a pêntada 1-5 de janeiro e 16-20 de julho:
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Figura 8 |
Nota-se na figura acima o par de anticiclones dos quais o mais ao sul é mais intenso (Alta da Bolívia) e um cavado à leste da Alta da Bolívia e região de convecção sobre a Amazônia.
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Figura 9 |
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Figura 10 |
Comparação com outros lugares:
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Figura 11 |
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Figura 12 |
O estabelecimento da estação chuvosa na Bacia Amazônica é relativamente rápido, durando menos do que 1 mês e por vezes acontecendo em apenas alguns dias; este rápido estabelecimento se deve a causas dinâmicas e não apenas à variação anual do ângulo de incidência solar.
Por outro lado, o término da estação chuvosa é mais lento, em geral maior do que 1 mês.
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Figura 13 |
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Figura 14 |
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Figura 15 |
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Figura 16: Médias sazonais da precipitação observada (mm/mês) em tons de azul e TSM (K) em tons avermelhados para o (a) verão, (b) outono, (c) inverno e (d) primavera. Fonte: Da Rocha e Nobre, 2001. |
1) Qual a contribuição de Kousky (1988) para a convecção Amazônica?
2) O que são pentadas de OLR? Quais os valores de OLR representativos para convecção Amazônica? Discuta fisicamente sua resposta.
3) O que acontece com os núcleos de convecção a medida que se aproxima do verão? (linhas pontilhadas)
4) Selecione um campo de OLR às 12:00 Z (o mais atual possivel) e verifique as semelhanças com relação as figuras médias de Kousky (1988). Avalie as anomalias de OLR. Quais as regiões secas/chuvosas do Brasil?
5) Quais os cuidados que devem ser tomados ao avaliar a convecção (estações chuvosas) para as regiões do Brasil com esses dados de OLR?
6) Quais as contribuições de Horel et al? Enfatize as diferenças entre verão e inverno.
Virji, H., 1981: A preliminary study of summertime tropospheric circulation patterns over South America estimated from clouds winds. Mon. Wea. Rev., 109, 599-610.
Virji, H., 1982: An estimate of the summertime tropospheric vorticity budget over South America. Mon. Wea. Rev., 110, 217-224.
Kousky, V. E., 1988: Pentad outgoing longwave radiation climatology for the South American sector. Rev. Bras. Meteor., 3, 217-231.
Horel, J. D., A. N. Hahmann e J. E. Geisler, 1989: An investigation of the annual cycle of convective activity over the tropical Americas. J. Climate, 2, 1388-1403.
Santos, A. F., 1999: Estudo de caso de Alta da Bolívia. Seminário de Laboratório de Sinótica.IAG/USP.
(acessado em 15/08/10)