Ciclones e ciclogêneses
Definições
- Ciclone: área na atmosfera na qual a pressão é menor que nas vizinhanças em um mesmo nível de altura. É representado em uma carta sinótica por um sistema de isóbaras em um nível de altitude específico (ou um sistema de contornos de altura geopotencial em um mesmo nível de pressão);
- Os ciclones fazem parte do grupo dos fenômenos severos da escala sinótica;
- Primeiras considerações climatológicas: Taljaard, 1972;
- Primeiras identificações por satélite: Troup & Streten, 1972;
- Ciclogênese: é o processo de abaixamento da pressão atmosférica de superfície com consequente formação de circulação ciclônica. Muitas vezes pode ser disparada por vórtices ciclônicos de altos níveis (serão vistos adiante);
- Esses vórtices de ar superior e os centros de baixa pressão à superfície provocam alterações no tempo e podem causar problemas locais e regionais;
- No que diz respeito ao HS, as ciclogêneses são mais frequentes em latitudes médias, entre 35° e 55°S, em quase todo o hemisfério.
- obs: nem sempre os sistemas de baixa pressão produzem padrões de nuvens identificáveis como vórtices ciclônicos;
Estágios de desenvolvimento do ciclone e Sutcliffe
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Figura 1: Estágios de desenvolvimento de um vórtice visto através de imagens de satélite. |
- W: estágio de onda, apresentando saliência na banda de nuvens;
- A e B: estágio de formação do ciclone, apresentando forma de vírgula e gancho respectivamente;
- C: estágio maduro, com a nuvem espiralada em torno de um centro definido;
- Dx e Dy: estágios de dissipação, com nuvens concentradas no centro do vórtice que evoluem para bandas circulares menos organizadas.
- Em baixos níveis, essa evolução é dependente do aquecimento próximo à superfície e do movimento vertical adiabático, ou seja, apresenta um cavado em superfície que vai intensificando até que a isóbara de baixa pressão se feche;
- Em 1947, Sutcliffe partindo da relação da variação da pressão em superfície, estabeleceu equações dinâmicas que descrevem o desenvolvimento de ciclones para um sistema quasi-gestrófico. Ele combinou a variação temporal da vorticidade absoluta no nível de 1000 mb com a advecção de vorticidade em 500 mb (nível não divergente - NND); com a advecção de temperatura na camada entre 1000 mb e 500 mb; com a variação de temperatura por movimento vertical; com a mudança de temperatura por aquecimento da coluna atmosférica. Desta forma, todos os termos são calculados de forma que os valores negativos indicam tendência a favorecer a ciclogênese, seja na formação ou na intensificação.
- Para que haja abaixamento da pressão na superfície deve haver uma diminuição de massa na coluna de ar, o que só é fisicamente viável se o perfil vertical de divergência apresentar maior divergência do que convergência, como mostrado na Figura 2:
- Na prática, a vorticidade é mais adequada para analisar pois as estimativas de divergência possuem muitos erros devido a erros nas medidas de vento;
- A teoria de Sutcliffe é aplicada no nível de não divergência (NND) - afim de usar a equação do vento térmico - e baseia -se em considerar a vorticidade geostrófica como a vorticidade real, o vento térmico como o cisalhamento vertical do vento real;
- Desta forma, a teoria quase-geostrófica permitiu uma simplificação nas equações, relacionando a divergência com a componente vertical da vorticidade absoluta. Desde que a divergência é uma medida da taxa de adição/remoção de massa de uma coluna atmosférica, é possível obter uma relação entre a variação da pressão de superfície e o campo de vorticidade em diversos níveis verticais. O conceito de desenvolvimento de sistemas está justamente relacionado com esta taxa de variação de pressão na superfície, que quando positiva (negativa) indica formação ou intensificação de um anticiclone (ciclone);
- A equação desenvolvida por Sutcliffe é:
- Fisicamente o primeiro termo da equação indica a variação temporal da vorticidade absoluta em 1000 mb (termo da tendência de Q0). O segundo termo indica a advecção de vorticidade em 500 mb; o terceiro termo indica a advecção de espessura (ou temperatura) entre 1000 e 500 mb; já o quarto termo indica a variação da temperatura por movimento vertical (termo da estabilidade ou adiabático) enquanto o quinto termo indica aquecimento médio na camada (termo diabático). Na tabela abaixo é expresso a contribuição de cada um:
Tabela 1: Contribuição dos termos da equação de Sutcliffe (Cardoso, 2000).
| Termo | Significado | Favorece quando |
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1 | | Vorticidade absotuda em 1000 hPa | menor que zero |
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2 | | Advecção de vorticidade em 500 hPa | menor que zero |
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3 | | Advecção de espessura ou temperatura | menor que zero |
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4 | | Movimento vertical ou estabilidade (compressão e expansão adiabática) | maior que zero |
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5 | | Taxa de aquecimento médio na camada (1000-500) (termo diabático) | menor que zero |
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Classificação
- Ciclones com ciclo de vida convencional (uma fase):
- Ciclones tropicais:
- Núcleo quente e simétrico;
- Vento forte sustentado, ressacas e precipitação intensa; após a passagem, há aumento de temperatura e bom tempo.
- Ciclones extratropicais:
- Núcleo frio e assimétrico;
- Vento forte em forma de rajadas, chuva com intensidade de leve a moderada; na seqüência, há diminuição de temperatura e bom tempo.
- Ciclones com ciclo de vida não convencional (múltiplas fases – combinação dos ciclos convencionais):
- Transição extratropical: núcleo quente => frio.
- Seclusão quente: núcleo frio => quente raso.
- Transição tropical: núcleo frio => quente profundo.
- Ciclone subtropical: ciclones híbridos, com componentes frias em altos níveis e quentes em baixos níveis, e formação baroclínica na presença de vorticidade negativa sobre TSM quente (Guishard et al., 2007); possui estruturas e/ou origem ambíguas (Evans e Guishard, 2004); efeitos de tempo similares aos de um ciclone tropical.
Ciclogênese na América do Sul
- Na América do Sul e Atlântico Sul (até 30°W), metade das ciclogêneses acontecem ao norte de 35°S;
- A maior frequência de ciclogênese ocorre sobre o oceano no verão e sobre o continente no inverno;
- As baixas quentes de superfície da região do Chaco tendem a se tornar sistemas ciclônicos desprendidos que se movem para leste, enquanto que ciclones extratropicais apresentam um deslocamento médio para leste e sudeste;
- Considerando as ocorrências de ciclones sobre o sul da América do Sul, 70% se formam na região 10°-55°S e 0°-90°W sendo o restante referente a sistemas migratórios com origem fora desta área; dos 70%, apenas 20% se forma na região do Pacífico Sul e 50% sobre o continente e Atlântico Sul;
- Cerca de 90% dos casos tem influência no alinhamento de frentes frias (outono-inverno) ou em interação com sistemas convectivos (primavera-verão);
- No inverno o principal processo de desenvolvimento de ciclones é a conversão de energia do estado básico para a perturbação (instabilidade baroclínica), enquanto que no verão estes sistemas dependem de instabilidade hidrodinâmica;
- A ligação entre ciclogênese e precipitação consiste em suprimento de umidade (da região amazônica ou mesmo de regiões marítimas), o qual possui grande importância na própria dinâmica da ciclogênese.
Ferreira (1989) e Satyamurty, Ferreira & Gan (1990):
- Investigaram cuidadosamente a frequência de ciclones e de desenvolvimento de ciclones, bem como suas áreas e estações preferenciais de geração na região da América do Sul, através de 7 anos de imagens de satélite e cartas sinóticas;
- Avaliam um limiar de vorticidade nos níveis 500-300 hPa necessário para o desenvolvimento de ciclones sobre o continente no inverno, a partir de dados de vento oriundos das análises operacionais do NMC em grids de 5° (também usam diferenças centradas no espaço para as estimativas);
- i. Se por um lado o reconhecimento via imagens de satélite é vantajoso pelo fato de: (i) promover uma figura das condições atmosféricas na troposfera como um todo, e (ii) cobrir áreas sem cobertura amostral, por outro lado perde-se um pouco da distinção dos níveis de ocorrência do fenômeno;
- Na região 30°-70°W 15°-45°S, durante o período de observações (Janeiro de 1980 a Dezembro de 1986) o número de ciclones que se formaram é cerca de 750, sendo 280 destes formados acima de 30°S.
Obs1: Por ano, cerca de 100;
Obs2: No ano de 1983 (El-Niño) o número subiu cerca de 25%, sendo que o principal aumento se deu ao norte de 30°S, consistente com a precipitação acima do normal neste ano no Sul do Brasil;
Obs3: A região sul-americana apresenta condições distintas para a ocorrência de ciclogênese em relação à América do Norte, pois a máxima freqüência observada aconteceu no verão e não no inverno (lembrar o curto período dos dados, não deve ser absolutamente conclusivo);
Obs4: Quanto às direções de propagação, apenas 8% se dissiparam sem apresentar movimento significativo, enquanto que 56% foram para sudeste e 22% para leste, sem variação sazonal característica destes valores;
Obs5: Vale notar que não se desenvolvem vórtices estacionários durante o inverno (nenhum caso).
Entre 15°-60°S e 30°-70°W para o período de observações, 800 vórtices neutros passaram sem nenhum desenvolvimento ou intensificação detectável.
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Figura 4: Frequência de ciclogêneses. Os contornos representam o número de ciclones numa caixa de 5° de latitude e longitude durante um período de 7 anos: 1980-86. O intervalo do contorno é 5. |
Obs1: mais vórtices neutros passando pela região do que se formando nela.
Obs2: preferência pelas estações de transição.
Obs3: pouquíssimas ocorrências de vórtices neutros no cinturão 25°-35°S, o que significa que todas as ocorrências ao norte de 30°S formaram-se ou desenvolveram-se sobre o continente.
Obs4: cerca de 63% desses vórtices se moveram para leste e os demais se dividem entre trajetórias para nordeste e sudeste.
Obs5: Vórtices transientes se propagam mais rapidamente (média de 20 m/s) do que os que se formam na região (média de 12,5 m/s).
- Considerando cartas sinóticas de superfície, pode-se estimar uma velocidade média de deslocamento de centros de baixa pressão de cerca de 13 m/s no inverno e 9 m/s no outono (valores comparáveis com as estimativas por satélite para sistemas que se desenvolvem e bem menores do que a dos vórtices neutros).
- No inverno de 1979 foram observados 39 sistemas convectivos intensos, e com exceção de apenas 1, todos ocorreram associados a vórtices de intensidade superior a 2 x 10-5 s-1 que cruzaram os Andes.
- O fato da maior ocorrência de ciclogênese sobre a América do Sul ser no verão indica que embora a baroclinicidade seja um fator indispensável, existem outros agentes como a convergência de vapor e calor sensível que são mais ativos na região;
- Vórtices muito lentos ou muito rápidos passam sem se amplificar pela região;
- A ocorrência de baixas de superfície na região é bastante frequente e apresenta uma distribuição latitudinal com picos relativos em 25° e 50°S, principalmente no verão, fato devido à formação frequente dos CCM’s no Chaco;
- O limiar de vorticidade ciclônica em 500 hPa para a geração de sistemas convectivos intensos na costa leste da América do Sul no inverno é de 2 x 10-5 s-1, com 40% de chance (os autores enfatizam que é necessário estender a análise para outros períodos para caracterização climatológica).
Gan & Rao (1991)
- Estudo realizado com base em 10 anos de dados para verificar as estações do ano preferenciais para ciclogênese de superfície sobre a América do Sul.
- Os dados:
- Cerca de 14600 cartas de superfície (4 por dia) da Força Aérea Brasileira para o período de Janeiro de 1979 a Dezembro de 1988;
- Médias mensais para 8 estações de radiossondagem no Brasil e Argentina, para o período Janeiro de 1978 a Dezembro de 1987;
- Dados mensais de precipitação para 12 estações de superfície no sul do Brasil.
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Figura 6: Localização das 8 estações de radiossondas ao longo da costa leste da América do Sul (pontos) e estações raingage no sul do Brasil (cruz). |
- Critérios:
- No mínimo uma isóbara fechada ao redor de um centro de baixa na análise de 2 hPa de intervalo;
- Este centro deve persistir no mínimo em 4 mapas consecutivos.
- Frequências de ocorrência nos 10 anos de dados:
- Em 1981, de menor frequência e 1983, de maior;
- Existe variação sazonal e os meses de inverno apresentam maior frequência do que os meses de verão (máximo maio 134, mínimo dezembro 71, máximo secundário de 105 em outubro
- Separação por estações:
- Ocorre novamente a preferência por outono e inverno, com verão por último;
- A variação interanual: 1983 (maior), 1986 e 1987 (anos de El-Niño);
- Em 1981 apresentou menor frequência e era justamente um ano caracterizado por valores positivos do IOS.
- Em termos de precipitação consistente com as ciclogêneses, foram avaliadas as anomalias de precipitação nas estações do sul do país:
- Para 1981 as anomalias são sempre negativas (exceto uma), concordando com a menor frequência de ciclogênese;
- Em 1983 estão as anomalias mais positivas, até 100% acima;
- Em 1987 o El-Niño não foi tão intenso e algumas estações mais ao sul chegaram a mostrar anomalias negativas.
- Os autores concluem que a variação interanual da frequência de ciclogênese é consistente com as anomalias de precipitação, ou seja:
- Os anos de maior ocorrência de ciclogênese são os anos de maior ocorrência de chuva e estão associados a valores negativos do IOS (anos de El-Niño);
- Os anos de menor ocorrência de ciclogênese são os anos de menor ocorrência de chuva e estão associados a valores positivos do IOS.
- A maior frequência de ciclogênese no inverno está de acordo com Taljjard (1972) e Necco (1982) e aparentemente em desacordo com Satyamurty, Ferreira e Gan (1990); a justificativa é que os últimos se basearam fortemente em imagens de satélite e desta maneira podem ter incluído ciclogênese nos altos níveis, prejudicando a estatística.
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Figura 10: Isolinhas de freqüência média de ocorrência de ciclogênese para as estações do ano (respectivamente verão, outono, inverno e primavera) e para o ano como um todo. |
- Basicamente a presença de dois núcleos durante todo o ano;
- Para verificar a importância do estado da atmosfera coerente com as diferenças sazonais e interanuais, avaliaram o campo do número de Richardson e da estabilidade estática, dados respectivamente por:
- Pois sabe-se que estabilidade estática e cisalhamento do vento são os principais fatores para a origem de ciclones extratropicais.
- Considerando as estações de radiossondagem citadas anteriormente, obtiveram as secções verticais médias de inverno e verão:
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Figura 11: (a) Seções verticais da estabilidade estática (linhas pontilhadas em ºC/km) e o número de Richardson (linhas sólidas) para médias de 10 anos do inverno. A seta indica a posição do principal centro de máxima frequência de ciclogêneses, e a cruz indica o centro secundário. (b) Idem à Figura 11a, mas para o verão. |
- Os principais centros de ciclogênese estão nas regiões de baixo R1 nos níveis baixos, além do que os mínimos são menores no inverno do que no verão;
- De acordo com a maior frequência de ocorrência no inverno.
- E para confirmar este argumento apresentam também as correspondentes secções para os dois casos extremos citados anteriormente (1981 e 1983):
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Figura 12: Idem à Figura 11, mas para o(a) inverno de 1981 e (b) verão de 1983. |
- Observe os valores bem menores em 1983 em comparação com 1981.
- Portanto, a combinação da estabilidade estática com o cisalhamento do vento parecem explicar, pelo menos parcialmente, as diferenças na frequência de ciclogênese notadas anteriormente.
- Em termos de deslocamentos dos ciclones, as direções preferenciais detectadas estão de acordo com estudos anteriores, com predomínio para sudeste no cinturão 15°-40°S e para leste entre 40°-50°S.
Influências:
- Possível explicação para a formação e localização destes centros:
- Instabilidade baroclínica local no escoamento de oeste (núcleo sobre o Uruguai). É nos extratrópicos, região caracterizada pelo intenso contraste norte-sul de temperatura, onde se movimentam distúrbios de grande escala, denominados ondas baroclínicas.
- Distúrbio baroclínico se movendo sobre uma cadeia de montanhas, que gera a chamada lee-ciclogênese a sotavento da montanha (núcleo sobre o Golfo de São Matias). Efeito da topografia que propicia a ocorrência de ventos catabáticos que interagem com o contraste continente-oceano. A ciclogênese se manifesta principalmente a sotavento das cadeias montanhosas (Sinclair, 1995) e nas proximidades de regiões costeiras (Taljaard, 1967).
- Papel das correntes oceânicas onde condições quentes (frias) prevalecem na porção leste (oeste) dos continentes. Saraiva e Silva Dias (1997) sugerem a influência do gradiente de TSM produzido pela confluência das correntes do Brasil e das Malvinas (Peterson e Stramma, 1991).
- Consequências da baroclinia: os sistemas de baixa pressão inclinam-se em direção ao ar frio à medida que a altura aumenta; os ventos de oeste aumentam em magnitude com o aumento da altura => intensificação do sistema.
Reboita, M. S.; R. P. da Rocha; T. Ambrizzi; S. Sugahara (2009):
- Este trabalho mais recente verificou a presença de uma terceira região ciclogenética no setor oeste do oceano Atlântico Sul. O trabalho mostrou que, ao todo, a frequência de ciclones é máxima em três setores (Figura 13): costa sul/sudeste do Brasil (~25ºS) com maior densidade de sistemas no verão, costa do Uruguai (~35ºS) com maior densidade no inverno e costa sudeste da Argentina (~45ºS) com máximo no verão (Sinclair 1996; Reboita et al., 2005; Hoskins e Hodges, 2005; Reboita et al., 2009a).
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Figura 13: Densidade de ciclogêneses, no período de 1990 a 1999, que se iniciaram com vorticidade -1,5x10-5s-1 e que tiveram tempo de vida maior ou igual a 24 h na reanálise do NCEP. Na escala de cor da figura, o valor 1,5 corresponde a aproximadamente 37,5 sistemas. |
Vórtices ciclônicos de altos níveis de origem subtropical
Definição:
- São sistemas que se desenvolvem no Sul e Sudeste do Brasil associados a padrões em altos níveis que chegam pela costa oeste da América do Sul vindos do Pacífico;
- São sistemas de baixa pressão de escala sinótica, apresentando-se fechados na alta troposfera;
- Apesar de sua grande importância para as regiões Sul e Sudeste, diversas características sinóticas (variações sazonais e interanuais, processos físicos envolvidos, manutenção, etc) ainda não são bem conhecidas;
- São conhecidos por baixas frias por apresentarem o centro mais frio do que a periferia e ao penetrarem no continente, normalmente provocam instabilidade e precipitação nos setores leste e nordeste do vórtice;
- Sua duração pode variar de algumas horas até duas semanas, podendo provocar chuvas e ventos fortes e eventualmente geadas;
- Seu mecanismo de formação se baseia na amplificação de uma crista corrente acima (como no caso dos VCAN da Região Nordeste);
- Podem se propagar para altitudes menores e estar associados a ciclones de superfície ou mesmo promover ciclogênese.
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Figura 14: Formação esquemática de um VCAN. |
Vórtices do tipo Palmer:
- Origem tropical;
- Formam-se preferencialmente na primavera, verão e outono e passam a maior parte de suas vidas nos trópicos;
- Originam-se acima de 9000m nas latitudes mais baixas, são persistentes, crescem e intensificam-se durante a passagem para as latitudes mais altas (lembrar dos vórtices ciclônicos de altos níveis que atuam sobre o nordeste do país).
Vórtices do tipo Pálmen:
- Formam-se em qualquer época do ano, inclusive no inverno;
- Formam-se devido à pré-existência de um cavado frio em altos níveis de latitudes médias, que ao penetrar no continente se inclina meridionalmente; esta inclinação faz com que haja um atraso da parte em baixas latitudes, desprendendo completamente um núcleo, o qual apresenta circulação ciclônica fechada.
- Segundo Rao & Bonatti (1987), a instabilidade barotrópica não é um mecanismo importante na geração desses vórtices ciclônicos; a liberação de calor latente e a variação da intensidade do anticiclone são mais importantes.
- Os vórtices ciclônicos podem ser classificados como úmidos ou secos, dependendo da quantidade de nebulosidade associada; os confinados na alta e média troposfera são secos enquanto que os que atingem níveis mais baixos possuem maior nebulosidade e são úmidos.
Tabela
Mês | Número/Ano | Número Dissip./Ano | Número Atlântico/Ano |
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Janeiro | 3.1 | 1.6 | 1.5 |
Fevereiro | 2.7 | 1.1 | 1.5 |
Março | 2.4 | 1.1 | 1.3 |
Abril | 3.6 | 1.6 | 2.0 |
Maio | 3.8 | 1.5 | 2.3 |
Junho | 4.0 | 1.5 | 2.5 |
Julho | 4.4 | 1.4 | 3.0 |
Agosto | 4.3 | 1.9 | 2.4 |
Setembro | 3.3 | 1.2 | 2.1 |
Outubro | 3.2 | 1.0 | 2.2 |
Novembro | 3.1 | 1.1 | 1.8 |
Dezembro | 2.9 | 1.1 | 1.8 |
Total | 40.8 | 16.1 | 24.7 |
- A climatologia com imagens de satélite e análises operacionais do ECMWF para um período de 10 anos, na área 0°-120°W e 0°-70°S.
- A análise visual mostra que alguns vórtices próximos à Cordilheira dos Andes decaem e alguns se dissipam completamente; mas existem também os que se intensificam;
- Ocorrem vórtices ciclônicos de altos níveis no Pacífico Sudeste o ano inteiro, sendo que o maior número é observado nos meses de inverno (JJA);
- No mês de julho, em média, ocorre o maior número de formação de VCAN por ano e é neste mês que ocorre também a maior freqüência de VCAN que chegam até o Atlântico;
- Março é o mês de menor freqüência de VCAN que chegam no Atlântico e é também o mês de mínima freqüência média;
- Cerca de 60% do total de VCAN chegam até o Atlântico;
- Quanto à dissipação na costa oeste da AS, o mês de agosto apresenta maior freqüência e outubro a menor.
Avaliação da estrutura dos ciclones
Cyclone Phase Space - CPS (Hart, 2003):
- O CPS (ou diagrama espacial de fase do ciclone) é uma ferramenta que auxilia a identificação das fases dos ciclones. É baseado em dois parâmetros:
- Assimetria térmica ou de espessura:
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3160m-3260m |
Figura 15: Assimetria térmica dada pelo parâmetro B. Adaptado de Hart e Evans, 2002. |
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Figura 17: Relação dos locais de vários tipos de ciclones a partir do diagrama proposto. (a) vento térmico em baixos níveis e parâmetro B; (b) vento térmico em altos e baixos níveis. Adaptado de Hart, 2003. |
- No artigo de Hart há exemplos do diagrama de fase para diferentes tipos de ciclones (tropicais, extratropicais, de transição...).
Questionário
1) Como ocorre a ciclogênese?
2) Quais os fatores (superfície e altitude) importantes para a formação do ciclone?
3) Sabemos que um baixo valor para o número de Richardson, indica favorecimento à ciclogênese. Discuta essa relação.
4) O que são baixas frias?
5) Qual o mecanismo de formação de um VCAN de origem subtropical?
6) Qual a diferença entre o VCAN dos subtrópicos e o VCAN do Nordeste brasileiro?
7) Faça uma comparação entre os vórtices tipo Palmen e do tipo Palmer (semelhanças e diferenças).
8) Na década de 90, alguns trabalhos importantes sobre ciclogênese na América do Sul foram publicados. Você seria capaz de discutir (com suas próprias palavras!) o motivo:
a) Da existência de dois núcleos ciclogenéticos na América do Sul?
b) Da sazonalidade preferencial da ciclogênese?
c) Do deslocamento característico do ciclone?
Referências
Cavalcanti, I. F. A., 1995: Ciclones extratropicais. IV Curso de interpretação de imagens e análise meteorológicas, UNIVAP, São José dos Campos.
Gan, M. A., Rao, V. B., 1991: Surface Cyclogenesis over South America, Mon. Weath. Rev., 119, 1293-1302.
Gan, M. A., 1992: Ciclogeneses e ciclones sobre a América do Sul. Tese de Doutorado. Inoe/5400-TDI/479.
Hart, R. E. A cyclone phase space derived from thermal wind and thermal asymmetry. Monthly Weather Review, 131, 585-616, 2003.
Holton, J. R., 1979: An Introduction to Dynamic Meteorology. Academic Press, 391 pp.
Lourenço, M.C.M., Ferreira, N.J. & Gan, M.A. 1996: Vórtices ciclônicos em altos níveis de origem subtropical, Climanálise Especial 10 anos, 163-167.
Saucier, W. J., 1969: Principios de análise Meteorológica. Universidade de Chicago.
Sutcliffe, 1947: QJRMS 73 370-383.
Petersen, 1956: Weather Analysis and Forecasting.
Silva Dias, P.L., 1986: Interpretação da Teoria de Desenvolvimento de Sutcliffe - Curso de Extensão Universitária - Introdução ao uso de modelos diagnósticos para previsão do tempo - DCA/IAG/USP.
Ferreira, C.C. 1989: Ciclogêneses e ciclones extratropicais na Região Sul-Sudeste do Brasil e suas influências no tempo, INPE-4812-TDL/359.
Satyamurty, P., Ferreira, C.C. & Gan, M.A. 1990: Cyclonic Vortices over South America, Tellus, 42A, 194-201.
Gan, M.A. & Rao, V.B. 1991: Surface Cyclogenesis over South America, Monthly Weather Review, 119, 1293-1302.
Reboita, M. S.; R. P. da Rocha; T. Ambrizzi; S. Sugahara, 2009 a: South Atlantic Ocean Cyclogenesis Climatology Simulated by Regional Climate Model (RegCM3). Climate Dynamics, 10.1007/s00382-009-0668-7.
Seluchi, M.E. 1995: Diagnóstico y pronóstico de situaciones sinópticas conducentes a ciclogénesis sobre el este de Sudamérica, Geof.Intern., 34(2), 171-186.
Sites
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nsidc.org(acessado em 12/08/10)
moe.met.fsu.edu(acessado em 12/08/10)